Inspirado em conto do argentino Julio Cortázar, A[R]MAR estreia no Teatro Sérgio Cardoso dia 7 setembro

É possível ter o controle no jogo da vida? Está no outro aquilo que me falta? É possível nascer uma paixão em um minuto? Como armar estratégias para chegar até o outro? Essas e outras questões norteiam A[R]MAR, o novo trabalho da Suacompanhia, livremente inspirado no conto “Manuscrito Achado Num Bolso”, do escritor argentino Julio Cortázar (1914-1984). Com dramaturgia e direção de Paulo Azevedo, a peça estreia no dia 7 de setembro no Teatro Sérgio Cardoso.

O elenco é formado por Rita Pisano e Bruno Perillo, além de uma equipe de criação com reconhecida trajetória que acumulam diversos prêmios, como APCA, Shell, Qualidade Brasil e Sharp.

A montagem explora a mesma situação do conto de Cortázar: um homem cria regras para um jogo nas estações de metrô na tentativa de encontrar a mulher de sua vida. Ao encontrá-la e perceber o risco da reciprocidade no afeto, ele expõe sua estratégia de aproximação e recua diante do amor, voltando ao início do jogo.

Os dois protagonistas – ELA e ELE – são colocados em ação em quadros simultâneos, ora em diálogo com o público, ora consigo mesmos, ora em diálogo entre si. O espectador é o único com uma visão geral da narrativa, como se observasse a cena de longe no metrô. É um cúmplice de um jogo com várias peças para montar.

A encenação extrapola a discussão sobre gênero e foca nas tentativas do ser humano de se colocar em diálogo e afeto com o outro. Os planos distintos – pensar, falar e agir – aprofundam esses dois personagens, revelando seus julgamentos, preconceitos e desejos mais íntimos, quando tornam concretas as situações imaginárias, como frestas da realidade. Esses acontecimentos ilusórios tornam a complexidade da mítica romântica amorosa uma tragédia reconhecível e bem-humorada.

A estrutura cênica é armada por meio de jogos teatrais que possibilitam múltiplas de leituras sobre a narrativa e as relações contemporâneas (para além de um jogo amoroso), sem conclusões sobre as razões que movem as personagens.

“O texto me provocou a pensar a metáfora do jogo da vida com o próprio jogo da cênico, no qual se estabelece regras para nortear nossas relações, os códigos que guiam o ator para se colocar na cena para tornar algo sincero, com entrega, a cada apresentação. Essa ideia “cortaziana” de que a casualidade é o principal determinante da nossa vida e entender que viver é uma diversão, é um jogo, na qual os encontros acontecem casualmente, no meio de um lance do jogo. O próprio título do espetáculo já propõe um jogo: A[R]MAR. É possível armar estratégias para o amor? Amar é uma arma? Amar talvez seja o que há de mais político. Por isso, a política, no sentido mais amplo de um conjunto de regras ou normas de uma determinada instituição, seja o que há de mais complexo e difícil de viver”, comenta o diretor.

A casualidade é assumida como determinante da vida. Já o jogo é tido como uma metáfora para a imprevisibilidade do viver: as pessoas devem escolher suas peças de acordo com as variáveis apresentadas a cada momento. É preciso buscar o controle, o domínio dos sentidos previstos para a cena, mas contar com o caos; planejar os passos, mas deparar com a queda; afetar-se por uma vivência imprevista.

“Criamos alguns disparadores para que os atores improvisassem cenas que revelassem as nossas visões sobre os temas abordados, sendo o principal deles, a tentativa de se relacionar, de ir até o outro e todo o risco que isso envolve. A dramaturgia é formada por cenas, em que cada      ‘peça’ tem como ‘motor’ um jogo (Caça x Caçador, Dança das Cadeiras, Jogo do Dicionário etc), inclusive com lacunas para que os intérpretes possam improvisar e se manter em estado de jogo a cada sessão, como numa jam session. A própria encenação    ‘brinca’ com outros elementos para que o espectador possa ir juntando as peças da história de duas pessoas, que criaram esse jogo de ‘retorno eterno’ para não se separar, rememorando tudo desde a primeira vez em que se viram num vagão de um metrô”, acrescenta Azevedo.

Além da obra de Cortázar, a encenação teve influências de trechos icônicos de filmes, como “A Dupla Vida de Veronique”, de  Krzysztof Kieslowski; “8 e ½”, de Federico Fellin; e “Brilho Eterno de Uma mente Sem Lembranças”, de Michel Gondry, que serviram para embasar alguns dos jogos entre os personagens.

Da Literatura para o teatro, por Rita Pisano

Em A[R]MAR, escolhemos nos inspirar num conto de realismo fantástico, que tem por linguagem uma brincadeira com as palavras e com os planos de realidade. Como bom escritor de realismo fantástico, à la Borges ou Garcia Marques, Cortázar funde realidades e explora um presente expandido (que abarca muitas vezes uma memória – real ou não, de uma situação, além de outras tantas camadas). Transpor livremente esse autor para cena teatral, compondo um espetáculo original, não é fácil porque suas palavras são muito mais amplas na subjetividade do leitor do que qualquer tentativa de adaptá-las para cena. Por esse motivo, escolhemos escrever uma dramaturgia original, feita pelo nosso diretor Paulo Azevedo, que parte dos motes que o Cortázar sugere, provoca, instiga, mas cria outra história, aqui cênica, colocando dois atores/personagens em situação de jogo.

Penso que esse caminho, da literatura para o teatro, foi muito rico para nós, artistas da cena, pelo exercício de compreensão da própria linguagem do teatro – o JOGO – tema amplo do conto. Penso também que cada trabalho de adaptação de uma linguagem à outra exige um debruçar cuidadoso para que se possa entender o que cabe a cada linguagem e como é possível essa “tradução”, “releitura”. Em A[R]MAR, não tentamos reproduzir o conto, criamos a partir dele, nos deixamos influenciar por Cortázar e seu jogo de palavras e situações para criar a NOSSA história, original e subjetiva.

Acho muito rico quando podemos trabalhar com as migrações e misturas nas artes, ou seja, aproveitar da literatura para cena, é uma maneira também de tornar a fruição (que ao ler é individual) coletiva e compartilhada numa sala de espetáculo. O teatro é uma arte que se faz no tempo presente e a experiência criada naquele momento só existe por conta daqueles que lá estão. Partilhar essa experiência no AGORA de cada apresentação, é o que torna o teatro uma arte que celebra a efemeridade da vida e poder aproximar a plateia de textos literários e autores pelo viés coletivo, de uma vivência compartilhada pode abrir, quem sabe, a curiosidade para uma busca outra, talvez um caminho para a leitura.

O jogo entre ELE e ELA, por Bruno Perillo

Meu personagem em A[R]MAR criou um jogo para si próprio, calcado em regras muito claras para ELE. A busca por “uma felicidade” seria a razão final para esse jogo, a chance de poder conhecer uma mulher.  A confirmação das suas regras, no entanto, dependia de um grande número de aleatoriedades envolvidas, uma vez que só ele sabia que estava jogando. Dessa forma, ele nunca chegou ao final, nunca concluiu o jogo, nunca “venceu”. Entretanto – e por isso mesmo – nunca deixou de jogar. Essa motivação é fundamental para construir o tipo de vínculo que ELE estabelece com ELA.

ELE é seu próprio adversário, e o campo de jogo é o Metrô – seus trens, plataformas, conexões, entradas e saídas. A sua fé nesse jogo, fé no acaso, é tamanha – capaz de lhe provocar o que ELE chama de “aranhas” mordendo seu âmago – que ELE simplesmente não pode conceber a quebra, a violação de nenhuma de suas regras.

Porém, em seu encontro com ELA, ELE decide contrariar uma das leis, a última delas. Algo mudou, algo se rompeu, uma ruptura se deu. Nesse encontro, estabelece-se, pouco a pouco, um vínculo entre os dois, e novos encontros se repetem sem que as “aranhas” o mordam novamente.

O que o faz então recuar? Não acho que ele recue. ELE se apaixonou por esta mulher. ELE a ama profundamente e morre de medo desta consumação. A consumação deste amor significa também a destruição do seu jogo, do seu primordial elo de ligação com o mundo, no qual ele se reconhecia, no qual ele podia flutuar oculto, ignorado, invisível, clandestino no meio da multidão.

Assim, eles criam esse eterno jogo, até que consigam, juntos, suprir todas as “regras”, todos os anseios, todos os desejos mal resolvidos, criando talvez “um espaço feito para esquecer o mundo um pouco, enquanto eram esquecidos por ele, lembrando mais deles mesmos, deixando acontecer o que tinha que acontecer, longe das notícias dos jornais, das obrigações familiares…”.

SINOPSE

Duas pessoas rememoram a casualidade de um encontro no metrô de uma grande cidade. Peça a peça, compõem um jogo para recapitular os fatos que os levaram até ali, na tentativa de reconstruir o percurso e vislumbrar novas possibilidades juntos. A partir desses dois olhares, ELE e ELA criam um ciclo vicioso de regras impotentes diante da força da casualidade de uma experiência amorosa. Ali, se desafiam no campo dos afetos e relativizam as distâncias impostas por universos particulares.

FICHA TÉCNICA

Inspirado livremente no conto “Manuscrito Achado Num Bolso”, de Julio Cortázar

Direção e Dramaturgia: Paulo Azevedo

Atuação: Rita Pisano e Bruno Perillo

Direção de Arte: Simone Mina

Desenho de Luz: Kuka Batista

Trilha Sonora Original: Érico Theobaldo e Mano Bap

Vídeos: Janaína Patrocínio (Jpz Comunicação)

Preparação Corporal: Vitor Vieira

Direção de Vocal: Lucia Gayotto

Colaboração Cênica: Ana Paula Cançado

Produção de figurinos e objetos: Rick Nagash

Assistente de cenografia: Vinícius Cardoso

Consultoria de maquiagem: Louise Helène

Identidade Visual: Vítor Vieira, Simone Mina e Paulo Azevedo

Fotos: Vitor Vieira

Teasers projeto de Captação: Cláudio Alvim (Setes Mares Filmes)

Arte projeto de captação: Ângela Ribeiro

Assessoria de imprensa: Pombo Correio

Produção: Fulano’s Produções (Rodrigo Palmieri e Leandro Ivo)

Idealização: Rita Pisano e Paulo Azevedo

Realização: Suacompanhia Criações Artísticas

Saiba mais: blogsuacompanhia.blogspot.com.br

Instagram: @suacompanhiateatro

Facebook:     facebook.com/suacompanhiateatro/

facebook.com/ARMARTEATRO/

SERVIÇO

A[R]MAR, da Suacompanhia, com direção e dramaturgia de Paulo Azevedo

Teatro Sérgio Cardoso – Sala Paschoal Carlos Magno – Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista

Temporada: de 7 de setembro a 1 de outubro

Às sextas, aos sábados e às segundas-feiras, às 19h30; e aos domingos, às 20h.

Ingressos: R$40 (inteira) e R$20 (meia-entrada). Na venda antecipada até 31/8 os ingressos saem por R$30 (inteira) e R$20 (meia-entrada).

Duração: 70 minutos

Classificação: 14 anos

Capacidade: 144 lugares

Informações: (11) 4003-1212

Site e links do grupo: blogsuacompanhia.blogspot.com.br

facebook.com/ARMARTEATRO

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