Fabiana, filme sobre caminhoneira transexual, tem pré-estreiano Itaú Cultural após participar de diversos festivais de cinema

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A última viagem de Fabiana Camila Ferreira, mulher transexual e motorista de caminhão, tem pré-estreia no Itaú Cultural, no dia 26 de março. O filme, primeiro longa-metragem da diretora Brunna Laboissiére, conta a história dessa mulher, às vésperas de se aposentar, que escolheu a estrada como casa ao tentar sair de um meio que lhe era hostil. Após a exibição, a própria Fabiana estará presente para um bate-papo com o público, juntamente a Brunnae Priscila, namorada da protagonista à época da produção. O filme será distribuído comercialmente ainda neste ano pela Olhar Distribuição.

A complexidade de Fabiana é potencializada por uma aposta no encontro filmado, fruto da proximidade estabelecida pela protagonista com a realizadora e, consequentemente, a câmera. Ainda que grande parte do filme transcorra na boleia de um caminhão, é forte o sentimento de liberdade que deriva das histórias narradas e, principalmente, da potência da imagem de Fabiana, ao recusar estereótipos e responder com leveza aos desafios que a vida lhe reservou.

Depois de 30 anos vivendo como nômade pelas estradas brasileiras, neste documentárioFabiana realiza sua última viagem antes de encarar a aposentadoria – hoje fato concretizado – que não significa apenas parar de trabalhar, mas também fixar residência e deixar para trás as aventuras de estrada.Mesmo com todas as dificuldades, viajar sempre foi sua paixão. Na adolescência, após ter se assumido como mulher transexual, estar na estrada foi uma forma de reinventar uma nova maneira de viver.

“Em 2006, migrei de Goiânia para São Paulo. Foi a partir daí que comecei minhas primeiras viagens de carona, onde o caminho era tão importante quanto o destino. A maioria das pessoas que paravam eram caminhoneiros, todos homens”, lembra a diretora. “Em geral, eles dão carona para conversar e sentir o tempo passar mais rápido. ”Brunna revela que,antes mesmo de conhecer Fabiana, sempre ficou incomodada com essas divisões impostas entre masculino e feminino, que pretendem determinar o que pode ou não fazer enquanto mulher. “Nesse sentido, sempre me instigou entender o que seria esse ‘ser mulher’, entender se existiria de fato uma categoria definida em que podemos enquadrar as pessoas”, fala.

Em uma dessas vezes, pedindo carona, uma mulher dirigindo uma grande carreta parou: era Fabiana. “Viajamos de São Paulo a Brasília, durante dois dias. Neste percurso, começamos a nos conhecer e ela me contou muitas de suas histórias, que narra como os contadores de causo de Goiás. ”

Segundo a diretora, foi o fascínio pelas vivências de Fabianae a admiração pela sua coragem e forma de resistir enquanto mulher, trans, em um meio predominantemente de homens emachista, que a moveu a realizar umroadmovie. O desejo era também de conhecer melhor a personagem que guardava muito nas entrelinhas. “Essa decisão foi confirmada quando Fabiana me disse que iria se aposentar”, fala Brunna. “Por isso, foi crucial fazer este filme em sua última viagem, momento de um fim e um princípio. No caminho, sua companheira Priscila, embarcou com a gente, trazendo mais complexidade sobre o universo delas. ”

“Vivemos em um país em que um discurso conservador vem se intensificando e insistindo em desrespeitar o direito às liberdades individuais, entre elas à liberdade de livre escolha da identidade de gênero e sexualidade”, diz. “Neste contexto de intolerância, os índices de violência contra transexuais têm crescido muito nos últimos anos, sendo o Brasil o país com maior número de assassinatos de travestis e transexuais no mundo”, fala. “Por isso a importância de um documentário como esse. Por meio da abordagem da história de uma pessoa como Fabiana, podemos desconstruir estereótipos culturalmente concebidos, adentrando à humanidade universal de um indivíduo lutando por sua própria autonomia e liberdade. ”

O documentário estreou internacionalmente no início deste ano, no Internacional Film Festival Rotterdam, Bright Future Competition. Em 2018, ganhou o Prêmio Público no Olhar de Cinema, foi eleito melhor filme no Festival Panorama, melhor longa documentário no Festival For Rainbow. Esteve também no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro – Mostra Festival dosFestivais, Mostra Internacional de Cinema de São Paulo – Mostra Brasil e Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade – Panorama Brasil.

Sobre o Rumos Itaú Cultural

Um dos maiores editais privados de financiamento de projetos culturais do país, o Programa Rumos, é realizado pelo Itaú Cultural desde 1997, fomentando a produção artística e cultural brasileira. A iniciativa recebeu mais de 64,6 mil inscrições desde a sua primeira edição, vindos de todos os estados do país e do exterior.  Destes, foram contempladas mais de 1,4 mil propostas nas cinco regiões brasileiras, que receberam o apoio do instituto para o desenvolvimento dos projetos selecionados nas mais diversas áreas de expressão ou de pesquisa.

Os trabalhos resultantes da seleção de todas as edições foram vistos por mais de 6 milhões de pessoas em todo o país. Além disso, mais de mil emissoras de rádio e televisão parceiras divulgaram os trabalhos selecionados.

Nesta edição de 2017-2018, os 12.616 projetos inscritos foram examinados, em uma primeira fase seletiva, por uma comissão composta por 40 avaliadores contratados pelo instituto entre as mais diversas áreas de atuação e regiões do país.

Em seguida, passaram por um profundo processo de avaliação e análise por uma Comissão de Seleção multidisciplinar, formada por 21 profissionais que se inter-relacionam com a cultura brasileira, incluindo gestores da própria instituição. Foram selecionados 109 projetos, contemplando todos os estados brasileiros.

SERVIÇO:

Rumos Itaú Cultural 2015-2016

Pré-estreia Fabiana

De Bruna Laboissiére

Dia 26 de março

Às 19h

Duração: 120 minutos

Sala Itaú Cultural (piso térreo)

189 lugares

Classificação indicativa: 12 anos

Entrada gratuita

Distribuição de ingressos:

público preferencial: uma hora antes do espetáculo, com direito a um acompanhante (ingressos liberados apenas na presença do preferencial e do acompanhante)

público não preferencial: uma hora antes do espetáculo (um ingresso por pessoa)

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