COM TRABALHOS DE TEATRO E PERFORMANCE, MARCIA NEMER-JENTZSCH FAZ RESIDÊNCIA ARTÍSTICA NO CENTRO DA TERRA

MARCIA NEMER-JENTZSCH
FAZ RESIDÊNCIA ARTÍSTICA NO CENTRO DA TERRA

Dando continuidade ao projeto de Residências Artísticas, que buscam reunir novos criadores, novas maneiras de olhar à produção contemporânea e estimular mais profunda e radicalmente os interesses discursivos e estéticos dos próprios artistas residentes, gerando um ambiente particular de estímulo e liberdade, o Centro da Terra apresenta a Residência O SONO DA RAZÃO, da artista Marcia Nemer-Jentzsch, que acontece de 12 a 29 de março.

Uma das gravuras mais famosas de Goya O Sono da Razão Produz Monstros juntamente com o trabalho do artista e cineasta japonês Eiji Tsuburaya, serve não apenas como disparador do trabalho de pesquisa artística desenvolvido por Marcia Nemer-Jentzsch durante a residência, mas também como norte temático para os outros trabalhos apresentados durante o mês.

A programação, que tem início dia 12 de março com a oficina Cenografia e Performance, do Coletivo Bobik & Sofotchka, conta também com os espetáculos Phobos & Deimos, de Carol Pitzer e direção de Paulo Arcuri; Tudo. Em uma Noite, direção de Marcos Damigo; Os Tubarões, os Peixes e os Mortos, de Carla Zanini e direção de Tati Lenna, além da performance Descrição de Imagem/Estudo de Paisagem, a partir da obra de Heiner Müller com Marcia Nemer-Jentzsch.

O Sono da Razão

Em paralelo à ocupação do Centro da Terra por apresentações e aberturas de processos, a artista em parceria com o Coletivo Bobik & Sofotchka desenvolverá na sala de ensaios a performance teatral O Sono da Razão, um estudo sobre a capacidade de destruição do ser humano. No trabalho, ainda em desenvolvimento, um espectador por vez é convidado a ser o monstro que destrói cidades cuidadosamente construídas.

Para a artista Marcia Nemer-Jentzsch a residência no Centro da Terra, que apresenta trabalhos experimentais que abrem seus processos e desafiam o olhar do espectador para novas possibilidades teatrais e performativas, toca em questões extremamente relevantes para a contemporaneidade.

“Em um momento em que a figura do artista se encontra ameaçada, estar junto, apresentar e desenvolver trabalhos que desafiam o espectador e os limites do fazer teatral é um ato de risco, mas que nos fortalece como um todo”, explica ela.

Espaço de experimentação

A Residência Artística O SONO DA RAZÃOintegra a programação de Artes Cênicas do Centro da Terra. O espaço cultural abre as portas para receber apresentações de teatro, música, dança e performance naquilo que mais lhe parece óbvio: o experimentar. Sem a busca por produtos definitivos ou meras apresentações circunstancias para cumprir temporadas, os artistas são convidados a construírem experiências cênicas e musicais, estéticas, dramatúrgicas, coreográficas, performáticas e conceituais.

As Residências propostas pelo curador de Artes Cênicas Ruy Filho propõe à cidade um espaço de convivência com a arte em suas múltiplas possibilidades de discussão e vivenciação. “Na prática, os artistas residentes trabalharão suas pesquisas pelo período de um mês nas dependências do Centro da Terra, a fim de construírem investigações e estudos criativos que poderão resultar em espetáculos ou experiências estéticas abertas ao público. O projeto também estimula os artistas para que se aproximem de seus circuitos de criação, ampliando a presença de outros artistas”, explica o curador.

Ao longo de 2019 as Residências contarão com os artistas Fabrício Licursi, Rubens Veloso, Ana Carolina Marinho, Cristiano Burlan, Anna Zêpa, Mirella Brandi e Muep, Antônio Haddad, Juliana França, Tom Monteiro, Thaís de Almeida Prado, Rudnei Borges e Núcleo Macabéia. Alguns experimentos realizados nos últimos dois anos também foram convidados para uma “reocupação”, trazendo de volta à programação os trabalhos que começaram suas pesquisas no Centro da Terra, dando novas oportunidades para o público assistir, como os irmãos Pedro e Diogo Granato e os artistas Helena Ignez, Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes.

Programação

Oficina Cenografia e Performance

Com o Coletivo Bobik & Sofotchka

Dias 12, 14, 19 e 21 de março, terça e quinta-feira, das 10h às 13h.

Durante a oficina os participantes serão convidados a refletir e experimentar os processos criativos do Coletivo Bobik & Sofotchka. Juntos pensarão sobre possibilidades espaciais e imersivas que, ao unir espacialidade e dramaturgia, propõe uma experiência única ao espectador da performance.

Inscrições: Até 10 de março. Os interessados devem enviar texto de 10 linhas com apresentação e interesses e pesquisas artísticas para o e-mail cenografiaeperformance@gmail.com. 15 vagas 

Phobos & Deimos

Espetáculo/ abertura de processo

Dia 14 de março, quinta-feira, às 20h.

Texto de Carol Pitzer, do elogiado Enquanto Ela Dormia, e direção de Paulo Arcuri, a montagem mostra dois homens, que protegidos de um mundo em guerra em um bunker contemporâneo, confrontam suas experiências da realidade exterior. No elenco os atores Gus Marsoá e Thiago Leão.

Duração: 35 minutos | Recomendado para maiores de 18 anos.

Tudo. Em uma Noite

Espetáculo/ abertura de processo

Dia 15 de março, sexta-feira, às 20h.

Uma mulher presa aos clichês da sujeição a um homem ausente, e se encaminha para a libertação de si mesma, numa tentativa de transcendência dos papeis que nos são impostos, e também da própria linguagem teatral, desconstruindo seus códigos e promovendo uma explosão sensorial/cognitiva para que novas possibilidades possam emergir deste mundo cansado.

Texto: Falk Richter | Direção e cenário: Marcos Damigo | Interpretação e traduçã: Márcia Nemer-Jentzsch |Direção de movimento e projeção: Lucas Brandão | Iluminação: Laura Salerno. Duração: 45 minutos | Recomendado para maiores de 14 anos.

Os Tubarões, os Peixes e os Mortos

Espetáculo/ abertura de processo

Dia 21 de março, quinta-feira, às 20h.

Criação inédita da DeSúbito Cia. com dramaturgia de Carla Zanini, o texto é um desdobramento dos experimentos cênicosVocê só precisa saber da piscina (tentativas 1, 2 e 3), realizados pela companhia entre os anos de 2017 e 2018, nos quais investigou procedimentos que acionaram uma relação direta entre o corpo e a palavra, utilizando como material o romanceVocê só precisa saber da piscina (Editora Primata), também de Carla Zanini.

Na peça, um homem e uma mulher estão presos em um tanque cheio de água. Ele é um homem-morto dentro de um tanque de tubarões. Ela, em seu apartamento alagado, tenta escrever um romance, um livro, uma carta que elabore o seu luto. Juntos tentam compreender e se libertar do ambiente que se encontram e que os afogam. Através de uma narrativa difusa, além de uma história de amor, é possível vislumbrar um cenário que se parece muito com nossa sociedade e cenário político atual.

Dramaturgia: Carla Zanini | Elenco: Gabriela Cerqueira e Ricardo Henrique | Direção: Tati Lenna | Assistente de direção: Rafael Costa | Produção: DeSúbito Cia. Duração: 40 minutos | Recomendado para maiores de 14 anos.

Descrição de Imagem/Estudo de Paisagem

Com O Coletivo Bobik & Sofotchka e Marcia Nemer-Jentzsch

Dia 22 de março, sexta-feira, às 20h.

“Quem ou o quê pergunta pela imagem?”, indaga, a certa altura, o texto projetado sobre a tela branca reinante ao fundo do palco e cuja superfície é pintada ao vivo pela performer. Os traços em preto e branco aninham montanhas, árvores, pássaros e casas. A atriz não representa, antes, concentra-se na ação de pintar, à altura do chão ou com o auxílio de uma escada para alcançar as nuvens. A artista concebe o trabalho a partir da peça que o dramaturgo alemão Heiner Müller escreveu em 1984,Descrição de Imagem, inspirado no desenho de uma estudante de cenografia esboçado como o retrato de um sonho.

Texto: Heiner Müller | Direção e Performance: Marcia Nemer-Jentzsch. Paisagem sonora: Luisa Puterman | Operação de som e projeção: Dara Duarte | Produção e Realização: Coletivo Bobik & Sofotchka. Duração: 50 minutos | Recomendado para maiores de 18 anos.

O Sono da Razão

Com O Coletivo Bobik & Sofotchka e Marcia Nemer-Jentzsch

Dias 28 e 29 de março, quinta e sexta-feira, às 20h.

Por que, como indivíduos, destruímos tão facilmente aquilo que como sociedade levamos tanto tempo para construir? A partir da obra de artistas como Eiji Tsuburaya, o trabalho desenvolvido durante a residência busca investigar esta questão. Talvez, como a famosa gravura de Goya nos avisa, “o sono da razão gera monstros”. No trabalho, ainda em desenvolvimento, um espectador por vez é convidado a ser o monstro que destrói cidades cuidadosamente construídas.

Duração: 15 minutos (um espectador por vez) | Recomendado para maiores de 18 anos.

Sobre Marcia Nemer-Jentzsch

Atriz e diretora, que divide seu tempo entre São Paulo e Berlim (Alemanha). É mestre em Teatro pela Goethe Universität Frankfurt, onde sua dissertação, Ausência em Teatro e Performance, foi orientada por Hans-Thies Lehmann. Como parte de sua formação, trabalhou como assistente para diretores como Antunes Filho, Thomas Ostermeier e Christoph Marthaler, entre outros. O aprendizado obtido nestas experiências influenciou seus trabalhos como artista, ampliando o seu vocabulário de atriz. Após retornar da Alemanha ingressou no CPT, onde trabalhou como atriz durante o processo de ensaio de Nossa Cidade, de Antunes Filho, e entrou em cartaz com a coletânea de cenasEstações, coordenada por ele. Trabalhou com diretores como Stephan Seidel, Uwe Mengell, Kathleen Witt e Vincent Macaigne.

Seus mais recentes trabalhos são: descrição de imagem/estudo de paisagem, uma montagem da obra de Heiner Müller apresentada, entre outros, no MIRADA – Festival Ibero-americano de Artes Cênicas de Santos e Ocupação Audio Rebel, no Rio de Janeiro e E, com um beijo… eu morro, desenvolvido para o aniversário dos 400 anos da morte de William Shakespeare e apresentado, em 2018, na SP Escola de Teatro. Paralelamente também atua como formadora convidada na SP Escola de Teatro, nos cursos de Dramaturgia e Direção e faz a curadoria do grupo de estudos de teatro DRAMATIK!, no Instituto Goethe, em São Paulo.

Sobre o Centro da Terra

O Centro da Terra é um espaço cultural independente sem fins lucrativos mantido por Keren e Ricardo Karman. Inaugurado em 2001 e reformado em 2015, suas instalações abrangem um teatro com palco italiano, um ateliê, uma praça de convivência com um café, um terraço e salas multiuso. O teatro situa-se doze metros abaixo da superfície terrestre e foi aberto, após dez anos de obras e escavações no quarto e quinto subsolos de um edifício, no bairro de Perdizes, na capital paulista. Seu nome vem da sua localização subterrânea e é, também, uma homenagem ao espetáculo Viagem ao Centro da Terra realizado, em 1992, pela Kompanhia do Centro da Terra.

A programação é dirigida a todos os públicos, focada em produções, apresentações e ações de formação em Música, Artes Cênicas e Visuais que priorizem a linguagem contemporânea, e que dialoguem com a pesquisa da Kompanhia do Centro da Terra. A escolha da programação é feita por uma equipe de curadores que, a partir de suas pesquisas autorais, trazem para o Centro da Terra trabalhos experimentais de artistas emergentes e/ou consagrados, lançamentos, remontagens, temporadas pós estreia e projetos especiais. O local também abriga a escola de Arte Grão do Centro da Terra, que desenvolve um curso livre em que crianças e adolescentes participam de experiências nas diversas linguagens artísticas e que tem como fundamento a liberdade de criação, a ludicidade e a participação coletiva em percursos singulares. Atualmente o espaço conta com o Edital de Apoio aos Espaços Independentes da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Para roteiro:

O SONO DA RAZÃO

Apresentações de 14 a 29 de março, quinta e sexta-feira, às 20 horas, no Centro da Terra. Oficina dias 12, 14, 19 e 21 de março, terça e quinta-feira das 10h às 13h, no Centro da Terra. Com Marcia Nemer-Jentzsch e outros. Curadoria – Ruy Filho.  Ingressos – Ingresso consciente (o público, consciente do trabalho envolvido para realização do espetáculo, e do valor que ele dá para vivenciar esta experiência, escolhe quanto acha adequado pagar pelo seu ingresso, de acordo com sua condição financeira) a venda pelo sitehttps://www.sympla.com.br/centrodaterra.

Café do Centro da Terra – De segunda a sexta-feira, das 12h até o início do espetáculo.

CENTRO DA TERRA – Rua Piracuama, 19 – Perdizes. Telefone – (11) 3675-1595. Capacidade – 100 lugares. www.centrodaterra.org.br.

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