Caco Ciocler: o galã do horário nobre assume seu melhor papel, de avô

A capa da edição 57 da Mirantte Magazine presta uma homenagem a um dos maiores nomes da dramaturgia brasileira: Caco Ciocler. Mas, apesar de ser um grande ator do teatro, da TV e do cinema, é no papel de um jovem avô, aos 46 anos, que Caco revela seu maior talento. Pai de Bruno, de 21 anos, ele agora mima em seus braços a pequena Elis, sua primeira netinha. “Foi uma experiência linda, principalmente a de poder assistir meu filho experimentando a paternidade, descobrindo o que é o amor por um filho. Mesmo sem termos dito explicitamente, sei que para ambos foi um momento onde nossa própria relação de pai e filho foi totalmente ressignificada”, confessou o ator.

Caco, que foi pai aos 25 anos, também jovem, agora tem um outro olhar, mais maduro, sobre a paternidade. “Acho que a maior diferença é que quando tive o Bruno, além do amor e do cuidado, havia também muita tensão. Foi um susto. Hoje, só sinto amor mesmo”, revelou. Apesar de ter sido um pai jovem e sem experiência, para ele o tempo e as relações íntimas caminham para mudanças e o amadurecimento. “Somos resultados de nossas escolhas, então não faz sentido para mim ficar remoendo sobre o que eu poderia ter feito. Não existe fórmula na relação pai e filho, é uma troca, contínua. Minha relação com ele está sempre em transformação, então me concentro naquilo que ainda posso fazer de diferente e não naquilo que poderia ter feito”, diz.

Caco Ciocler na capa da Mirantte Magazine 57. Foto: Dessa Pires

Hoje ele relembra do passado e dos primeiros passos nessa difícil e prazerosa tarefa da paternidade. “Uma das coisas que mais me incomodavam quando fui pai, era as pessoas tentando me ensinar a maneira certa das coisas. Claro, que com a melhor das intenções, mas não estou falando de conselhos, e sim de tentativas que acabavam por frustrar justamente a minha descoberta daquela relação com meu filho. Eu queria entender sozinho, descobrir suas necessidades e inventar maneiras para tentar supri-las”, recorda.

E se isso também acontece na sua vida, ele ensina. “No meu caso faço questão de estar por perto, de dar conselho quando me perguntam, de falar aquilo que acho que tem que ser falado, mas tomo o maior cuidado para deixar meu filho descobrir uma paternidade própria”. Caco ainda deixa uma dica para quem estiver vivendo esses e outros dilemas. “Olha, acho que o grande esforço que a gente tem que fazer é o de entender que criar um filho com amor significa dar suporte para o desenvolvimento de sua individualidade. É incrível como a gente transfere expectativas, frustrações, medos, como a gente cobra que os filhos sejam para nós uma espécie de espelho. Isso não é nem um pouco amoroso, mas sim, narcisista. É um exercício diário, constante, de muita atenção, saber se estamos ajudando no desenvolvimento de uma persona singular, diferente de nós”, reflete.

Tudo ao mesmo tempo
Essa frase se aplica perfeitamente ao ator que está no ar em diferentes canais, podendo representar papeis muito diferentes. A correria, a agenda exaustiva poderia ser um problema? Não para quem se abastece e relaxa trabalhando. Falando do personagem que entra na sua casa diariamente, o Edgar, de “Segundo Sol”, novela das 21h da Globo, que diferente da sua vida real, tem uma relação conturbada e cheia de culpas com as filhas Manu (Luisa Arraes) e Rochelle (Giovanna Lancellotti), ele explica: “Edgar é fundamentalmente um despreparado, emocionalmente falando. Não acho que seja má pessoa, é mais uma vítima de uma criação autoritária que, na tentativa de forjar um filho forte, acabou destruindo sua autoestima. Mas é claro que essa fragilidade é emocional. É um perdido e espero, sinceramente, que ele tenha uma redenção, que ele possa aprender com os erros e finalmente construir um caminho mais conectado com seus desejos mais íntimos”.

Com uma mistura de drama e comédia, enquanto Edgar sofre, as trapalhadas do núcleo dos Athayde ainda conseguem arrancas muitas gargalhadas dos telespectadores. “A gente se diverte muito, morre de rir nas cenas. Não tem ninguém normal ali, é quase um circo dos horrores. é muito divertido. E são todas, pessoas maravilhosas, artistas maravilhosos, tentando dar vida, algum sentido, à loucura que é essa família”, diz Caco.

Sem sair de cena
Caco Ciocler está na tevê, no cinema, no canal à cabo… “Não consigo muito ficar parado. Minha profissão está muito ligada à minha vida, ao meu desenvolvimento pessoal. Cada personagem é uma oportunidade de mexer em coisas muito íntimas, vasculhar cantos empoeirados da alma. Então não é apenas um trabalho, faz parte de mim, da minha investigação. Isso não me cansa, ao contrário, me alimenta”, revela. Conhecido por sua veia dramática, Caco diz porque ainda não se arriscou na comédia: “Acho a comédia algo muito sofisticado. Respeito demais a inteligência dos cômicos. Talvez me sinta mais seguro no drama, mas, por isso mesmo, mais fascinado pela comédia”.

Em “Carcereiros”, série da Globo, o ator participou de um dos episódios da primeira temporada como o violento Jasão. Já em “Unidade Básica”, do canal à cabo, Universal Channel, ele vive Paulo, um médico humanista e idealista que entra em conflito com a nova médica que chega na sua unidade, representante de uma medicina mais técnica, fria e especializada. Entre os seis longas que fez e ainda irão estrear, está o “Boni Bonita”, uma coprodução com a Argentina. “O filme foi todo rodado aqui. É a história da relação de um músico com uma fã, contada por meio do encontro deles em uma casa na praia em quatro momentos diferentes da vida dos dois. Contraceno com a atriz argentina, talentosíssima, Ailin Salas”, conta.

Já no filme “Simonal”, Caco repete a parceria de “Segundo Sol”, com o ator Fabricio Boliveira, o Roberval. Em “Banquete”, filme de Daniela Thomas, ele interpreta o advogado de um jornalista prestes a ser preso. E não para por aí não! “Em ‘Fica Mais Escuro Antes Do Amanhecer’, faço o dono de uma fábrica de gelo num mundo pré-apocalíptico. E ainda tem uma participação especial no filme “Contra a Parede”, no qual Antônio Fagundes produziu em regime de cooperativa”, conta o ator que já ganhou diversos prêmios por seus trabalhos e, pelo jeito, vem muito mais por aí.

Mas apesar de estar tão presente na TV e o cinema ele tem o teatro como seu local preferido. “Sinto que no teatro sou mais dono do meu trabalho. Na TV e no cinema meu trabalho é constantemente transformado, mexido, adulterado, seja pela escolha de um enquadramento específico, seja pela edição que mexe nos tempos, enxuga pausas, engole raciocínios, escolhe reações… enfim, na TV e no cinema eu entrego um material que é depois mexido, adulterado pelo diretor. Não no set, junto comigo, mas longe de mim, sem minha participação. No teatro não, no teatro sou dono daquilo que faço”, fala.

Bom se você se perguntou como ele arranja tempo para tudo isso, tem mais uma para arrematar. Atendendo a um convite da Editora Planeta ele se enveredou pelos caminhos da literatura. “Eles criaram um projeto em que convidaram representantes das diferentes etnias que compõe nossa nação brasileira, não autores, para escreverem ficções sobre filhos de emigrantes vivendo no Brasil. Como sou descendente de judeus, me escolheram para o projeto. A experiência foi linda, um mergulho nos fragmentos de memórias da família preenchidas com a argamassa da ficção. Mas foi também uma experiência muito desgastante. Estava gravando novela e fazendo teatro ao mesmo tempo, foi uma loucura. Tomei gosto pela coisa e pretendo escrever mais, mas entendi que é um trabalho que só é possível se você lhe dedica um tempo digno e exclusivo”, explica.

Foto: Dessa Pires/ Texto: Luciana Albuquerque

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